quarta-feira, 31 de dezembro de 2008


Desejo a todos os meus amigos que a virada de ano seja repleta de alegrias e diversão e que o novo ano que chega possa trazer múltiplas oportunidades de novas e boas experiências , capazes de permitir a sensação de grandes realizações, muitos contentamentos, algum dinheirinho, trabalho na medida certa, momentos de paixão, sentimento de amor pelo OUTRO, paz interior e crescimento espiritual. É muito! Então, mãos à obra!

beijos em todos

Nanda

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Então é Natal!



Fecho os olhos para trazer à tona, em mim, as lembranças felizes de Natal que minha mente pôde arquivar. Dizem que no nosso cérebro as coisas positivas e boas ficam associadas num lado e as negativas e tristes se juntam no outro. E quando acionadas as janelas de um campo e de outro, saem voando, mãos dadas, a nos levar à glória ou ao limbo.
O Natal para mim ganhou espaço nos dois lados, dividiu-se ao meio. No lado da felicidade vem acompanhada do cheiro de esperança das folhas de pitanga que minha mãe espalhava por toda a casa, e se mistura ao cheiro da cera parquetina que exalava do assoalho e ao ruído da enceradeira preparando a sala para a festa, festa só de pai, mãe e irmãos. Tem um burburinho de crianças indignadas com a morte do peru que um mês antes Tio Orlando, irmão de minha Dinda, trazia de Muritiba para ser engordado no nosso quintal até quedar, bêbado, nas mãos de minha mãe e D. Eulália, não obstante o nosso choro e pedidos de clemência, afetuados que estávamos por conviver diariamente com bicho tão feio e porcalhão, mas que respondia incansavelmente aos nossos gritos de GLUUUUH, sem nos deixar uma única vez na mão. Ceia simples, arroz com passas, farofa de manteiga com azeitona e ameixa e o peru dourado adornado com frutas em calda: pessegos, figos, abacaxi e ameixa. Queijo cuia Palmyra (onde foi parar aquele sabor delicioso de minha infância, não consigo mais resgatá-lo por mais caro que pague por ele), nozes, amêndoas, castanhas e uvas, vermelhas e verdes. Sempre passei Natal perto da praia, em veraneio, portanto, um pouco do cheiro da brisa do mar e ruído longínquo de ondas batendo e farfalhar de palmas de coqueiro.
Nossa árvore era um galho seco especialmente escolhido por meu pai, enrolado em chumaços de algodão, e cheio daquelas bolas azuis, vermelhas, verdes, douradas e prateadas que se quebravam a um simples encostar de dedos. Não fui eu! Não foi ninguém, para ira de minha mãe.
Quando comecei a desconfiar de Papai Noel vasculhava a casa toda, aproveitando a saída de minha mãe por algumas horas, tentando descobrir onde ela e meu pai escondiam nossos presentes. Em vão. De onde saiam bicicletas, bonecas, banco imobiliário, jogos de memória, bolas imensas coloridas (maravilhosas para brincar de "Ordem, seu lugar, sem rir, sem chorar, de uma mão, à outra, tras pra frente,bate-palma, pirueta. " ou de "Lá vai a bola girar na roda, passai adiante sem demora, pois se ao fim desta canção, você estiver com a bola na mão, depressa, pule fora!")? E aquele mundo de "corre-caixão", pranchas de isopor para pegar jacaré na praia?
Esta falta de fé gerou certo descontentamento em Papai Noel, que no ano seguinte, tendo eu lhe pedido minha primeira Suzi, deixou-a escondida embaixo da cama, levando-me às lágrimas por alguns minutos. Enxugou-as D. Bertha que carinhosamente sugeriu-me: - Vá procurar direito, vai ver ele só quis te dar uma lição". Jurei nunca mais duvidar, mas 12 meses é um nunca de bom tamanho para uma meninota de 09 anos, esperta e cheia de irmãos mais velhos intriguentos na minha saudável relação com o bom velhinho.
Os anos se passaram e o Natal continuava igualzinho, Santa Klaus devidamente emoldurado nos cartõezinhos recebidos, mal representado pelos amigos secretos que raramente conseguiam suscitar a mesma satisfação dos presentes de outrora. Família reunida, tv ligada para que nossa velha não perder o Especial RC, Mangangão reclamando da fome, insensando a casa de cigarro, promovendo conversas paralelas que atrapalhavam a fruição das comoventes canções do Rei - "Mas nem no dia de hoje eu posso assistir meu programa?" Bradava minha mãe, "Vão lá prá fora", abanava-se tentando espandir a fumaça fedorenta do Continental sem filtro.
Vieram as crianças e de novo o Natal encheu-nos de luz e de algazarra, árvore repleta de presentes, fim do amigo secreto, para prolongar a magia causada nos pequeninos - todos presenteavam a todos, lembranças singelas e carinhosas, símbolos do amor pleno que nos amalgamava. Papai Noel retornava altivo, feliz em estar presente no fantástico ciclo da vida.
Mas minha mãe nos deixou no dia de Natal, caminhando amparada, para o hospital. Fez um esforço imenso para sair da cama na véspera, ver a alegria dos netos no abrir de tantos presentes, fruir o improvisado coral infantil a entoar Amigos Para Sempre e Noite Feliz. Não foi embora para sempre naquele dia, mas não voltou para o Natal seguinte.


Foto: Maria visita o Menino Jesus no Presépio montado na Cidade de Itaparica - Natal 2006 (tirada por mim)

sábado, 20 de dezembro de 2008

Missão 2008 Cumprida!

Ai, como eu era feliz quando, após o resultado do boletim da escola, sendo aprovada e toda sorrisos, somente uma idéia ensolarada ocupava-me a mente: FÉRIAS!!!
Hoje recebi meu "último boletim", passei de ano, digo, de anos, fui prá 7ª e pro 2º ano, mas as férias ainda estão longe... no máximo, um recessozinho de Natal e Ano Novo. E mais batente!
Você sabe que está ficando velha quando seus "presentes de Papai Noel" são os boletins dos filhos. Que nota? 6,0, né? Afinal, foi na recuperação...
Bom, quem também está superfeliz é Rafa - ganhou o inalienável direito de não tomar banho até fevereiro...
Ufa, que sorte!

Todo mundo está vendo que não tenho fotos de Rafa estudando, né?

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Amigos de Infância: fonte da juventude!





Desde 1999 meus colegas de escola se reunem uma vez por ano para a confraternização de Natal e Ano Novo. Terminamos o Colegial - hoje Ensino Médio, em 1979, no Colégio Marista de Salvador, este mesmo que figurou nos principais jornais da cidade há poucos meses por conta de sua venda a uma construtora pernambucana de espigões. Durante 20 anos nunca fizemos nenhum encontro oficial, ficando cada qual frequentando os amigos pessoais que a vida foi aproximando. Mas aquele primeiro encontro em 20 de novembro de 99 foi um divisor de águas em nossas vidas. Atenderam ao chamado para um churrasco no Clube Espanhol 120 dos 150 colegas que fizeram juntos o vestibular de 1980. A comissão organizadora, da qual fiz parte, foi até o colégio, solicitou a lista das três turmas do 3º ano, juntou as fotos oficiais, fez um reconhecimento e partiu pro catálogo telefônico. Decidimos que não seria uma festa aberta a familiares, salvo no caso dos conjuges terem sido colegas também - e não são poucos os casos. E foi uma festa maravilhosa! Reconhecer cada um, lembrar os apelidos, as histórias de farras, brigas, paqueras, namoros, fofocas. A notícia triste da perda de dois, do enlouquecimento de três - a surpresa da chegada de gente que nunca imaginávamos que pudesse vir à festa - até da Grécia veio colega. E a fantástica descoberta de que a nossa intimidade juvenil era restaurada em menos de 5 minutos! Incrível a força que tem este sentimento fraterno de ter dividido a juventude ! Lá somos Vaca, Teta, Cachorro-D'agua, Bisteca, Dente, Risoleta, Homo-ferus, Barata, Monica Patológica, Márcia Pato Donald, Bode, Tina Gripe, Índio, Cocota, Milton Monstro, Bobão, Oscaralho, Formiguinha Marciana, Bel Boa, etc - todos hoje profissionais liberais, pais e mães de família. A gostosa da época chega e os "meninos", em coro e sem ensaio, gritam: Ai Sheyyyyyyla!
Dançamos, fizemos discursos, bebemos, rimos muito. E nos apegamos. Criamos um grupo no yahoo e cadastrei 150 endereços eletronicos de gente que mora em toda parte do mundo. Hoje nos falamos quase que diariamente e é igualzinho uma sala de aula: alguns bem comportados recebem as mensagens e não se manifestam, apenas se divertem com a algazarra da turma da cozinha - os caras de pau de sempre.
Ontem à tarde nos encontramos para a nossa 10ª reunião anual. Não vai todo mundo até porque não fazemos mais comissão organizadora. Faz-se uma enquete rápida no Igloo (e-group) e confirma-se local e data, vai quem pode. Sempre só os colegas. Dona de excelente memória e com passe sempre livre entre baderneiros e santinhos, sou a "imoderada moderadora" do Igloo - e responsável por anunciar discretamente cada um que vai chegando para que o grupo possa relembrar os adolescentes por trás de óculos, barrigas, carecas, rugas, peitos turbinados, botox, cabeleiras louras, acajus, reflexivas. iluminadas, alisadas, cacheadas, enfim...
Som na pista, gargalhadas soltas, Ceres me chama no cantinho: - Nanda! Não consigo lembrar aquele colega ali. Quem é? Acompanho um senhor alto, barrigudo, cinquentão mal passado, vestido numa camisa azul com gravata amarela, que atravessa o recinto. - O Maître, Ceres, aquele é o maître!
Ceres foi proibida de beber na festa!

sábado, 13 de dezembro de 2008

Minha Dinda

Ontem, 12 de dezembro foi aniversário de minha madrinha. De todos os meus 5 irmãos, acho que fui a única em casa a ter uma Dinda. Meu irmão mais velho, Ed, foi batizado por Tia Zélia, irmã de minha mãe. Luiz por Tia Alice, queridíssima, que Deus a tenha ao seu lado. Deraldo tinha por madrinha a mulher de seu Padrinho, Dr. Bahiana, médico muito conhecido da Bahia Antiga, grande amigo de meu pai, mas mal a conhecera; Ney tem por madrinha a mulher de seu Padrinho, outro grande amigo de meu pai, chamado Tio Ribeiro, mas sem nenhum parentesco conosco, visitávamo-os quando ele ainda era vivo, sem maiores intimidades. Dina teve por madrinha nossa avó paterna, Vovó Lulu, falecida em 1979 aos 95 anos. Por causa da relação de parentesco as madrinhas não assumiam seu papel específico, sendo prioritariamente tias e avó guardadas igualmente no coração de todos.
Mas eu fui entregue a uma grande amiga de infância de minha mãe, Aydil. Ser minha madrinha era o grande papel dela junto a mim e a meus irmãos. Desde minha tenra infância o dia 12/12 era por mim aguardado com muita ansiedade: minha mãe me preparava para passar o dia na casa dela, até hoje um sobrado na Ladeira do Prata, atrás do Convento do Desterro. Tudo começava dias antes, quando minha mãe costurava duas roupas novas para mim: uma para passar a manhã e a tarde e outra para vestir à noite, quando a família ia me buscar e comer um delicioso carurú.
Minha Dinda tinha um filho de minha idade, Marquinhos, e outro mais novo uns três anos, Luizinho. Bricávamos o dia todo e essa era uma grande novidade para mim, passar o dia brincando com dois meninos - e hoje vejo o quanto minha mãe confiava em minha Dinda, já que, naquela época, isso era absolutamente incomum. Aliás essa experiência do dia 12 era totalmente inusitada: não passava dia na casa de senhor ninguém até meus 16 anos. Só lá.
Lembro que na véspera já não dormia direito por conta da expectativa do passeio e de estrear minhas roupinhas novas - conjuntinhos de short e blusa e macaquinhos coloridos. Eu me sentia totalmente em casa: conhecia toda a família de minha Dinda e Dindo, conversava bastante como ainda hoje, era moleca que só. Aprontava com os meninos, meia menino que era no convívio com os meus irmãos. Meu padrinho era exímio fazedor de jogos de futebol de botão em resina e na minha sacolinha sempre levava o meu Galícia para participar do campeonato que eles promoviam logo à minha chegada, no início da manhã.
A casa de Dinda tinha um sótão cheio de bagunças por onde se chegava por uma escada altíssima e escura que ficava na sala atrás de uma cortina que fora ali posta para escondê-la. Era uma viagem... Além do carurú para a noite, minha Dinda preparava sempre a mesma deliciosa receita de pavê de ameixa, minha sobremesa favorita quando pequena.
Minha Dinda me conquistou estando sempre presente em todas as minhas festividades e comemorações - aniversário, natal, festas da escola, formatura, casamento, nascimento de filhos, batizados dos mesmos, aniversários deles. Pegava um ônibus em Nazaré e saltava em Piatã para me levar um abraço de aniversário, em meio ao calor da tarde de 03 de janeiro, eu já adulta, permanecendo lá somente o tempo de tomar um sorvete ou refrigerante e retornar ao ponto de ônibus para voltar para casa antes do escurecer. Deixava para mim um presentinho singelo, não sem antes repetir várias vezes: "é só uma lembrancinha, tomara que dê" - e era sempre a mesma coisa.
Quando minha mãe morreu há 12 anos, compreendi Tia Aydil como símbolo de um amor muito grande dela para comigo: esperou chegar sua primeira menina (após parir 4 homens) para homenagear a grande amiga. E meu carinho por minha Dinda ficou tão maior que não cabia mais no meu peito!
Ontem fiz um esforço enorme para conseguir uma horinha de almoço com ela. Sozinha em casa (os filhos trabalhando), não me esperava àquela hora (nunca tenho tempo de almoçar fora do trabalho). Sentada na velha cadeira do papai deixada na sala como lembrança de meu Dindo, banho tomado, cheirando a sabonete Bom-Tom, bem vestida, maquiada com ruge e batom, correntinha de ouro com crucifixo no pescoço, brincos grandes sem valor, olhinhos bem miúdos de quem já passou dos 80. Falou da saudade que tinha de minha mãe. E eu ali olhando para ela, emocionada, pensando como a vida era misteriosa nessa magia de se construir um bem querer. Como aprendi a amar alguém nos simples rituais da vida que corre...
Na saída, entrou no quarto, pegou um embrulhinho com papel de natal, escrito na dobra branca do meio do presente um Fernanda todo tremidinho: - "É só uma lembrancinha. Espero que dê..." e ganhei mais uma linda camisola de minha Dinda.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Direitos Humanos - para mim, para você, para todos



Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony



Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único: O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida, uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição, que o homem
é um animal que ama e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela

Parágrafo único:Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.


Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante a liberdade será algo vivo
e transparente como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre o coração do homem.

THIAGO DE MELO
1964

Para todos aqueles que acreditam que Deus quando fez o homem "à sua imagem e semelhança" não o queria escravo, nem miserável, nem torturado, nem subjugado, nem humilhado, nem faminto, nem sofredor, nem mal tratado, nem impedido de crescer em suas potencialidades.

"Amarás ao próximo como a ti mesmo" - Jesus de Nazaré

10 de dezembro - Dia Internacional dos Direitos Humanos






segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A Padroeira




Ainda menina conheci todas as festas de largo de Salvador. Meus pais não eram festeiros, mas minha mãe adorava um movimento. Até a Segunda-feira Gorda da Ribeira eu conheci, embora tenha sido logo limada porque sendo somente profana, sempre acabava em briga. Mas a Festa da Conceição da Praia ia com minha mãe e minha tia Zélia, mesmo sem meu pai. Ia cedo, prá missa, e depois rodava por entre as frutas, centenas delas, dispostas em pirâmides no chão. Por causa das frutas a festa tinha um cheiro diferente... Lembro as barracas com aqueles tamboretes pintados com figuras geométricas que quando empihadas formavam um colorido mosaico. Que burrice do infeliz que acabou com o "layout" das barracas, transformando todas nestes horríveis tetos de vinil, sem criatividade e sem beleza popular.
Havia um frisson de minha mãe e minha tia em esperar a missa acabar para chegar perto do andor da Santa e pegar um raminho de angélica e levar para abençoar a casa. Não eram as únicas a ter a idéia, de modo que era preciso enfrentar um leve empurra-empurra na Igreja, para se chegar quase no altar, onde a imagem de Nossa Senhora, arrodeada de angélicas e palmas de Sta Rita, aguardava a hora de sair para a procissão pelo Comércio. E eu tinha o maior medo da Conceição por causa do cabelo de verdade, preto como a noite e na altura dos ombros. Embora achasse aquele manto azul marinho lindo. E era só pegar as florzinhas de angélica e sair? Não, tinha de tentar abençoá-las com água benta. Um calor, um mundaréu de gente esprimida. Lá fora aquele dia azul maravilhoso, a gente doido para parar nas barracas de jogos, atirar as argolas azuis, vermelhas e brancas para tentar envolver os maços de cigarro e levar um para meu pai como prêmio. Mas D. Bertha não tinha paciência para isso, nem gostava de jogar dinheiro fora. Será que podia comprar um catavento? E aquelas bolas coloridas gigantes? Podia dar uma volta na roda gigante, sentar um pouquinho no cavalinho do carrossel? Tomar um guaraná naquela barraca com um sambão bem gostoso? Nada, podia comprar uns umbús, uns cajús, uns jambos, umas siriguelas e levar prá casa prá lavar bem lavado. Na festa, só uma fatia de melancia bem vermelha e voltar logo prá casa porque depois da missa, era só cachaça!


A foto em preto e branco tem autor conhecido: o maravilhoso Pierre Fatumbi Verger a tirou na Festa da Conceição em 1946.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Educar é Repetir?


Quem me conhece de convivência diária sabe que eu adoro contar casos. "Causos" como diria minha amiga Maria. Quando os meninos aqui de casa eram pequenos contava as histórias de nosso dia a dia e tinha gente que achava que eu tava inventando pois não se aguentavam de rir com o que ouviam. E ficavam achando que minha vida era mais divertida do que a delas porque não conseguiam reproduzir suas cenas tão similares com aquele finalzinho de piada e graça que eu botava nas minhas. Questão de estilo, nada mais. E o olhar, que efetivamente precisa buscar o divertimento, é certo! Colegas de trabalho eram fãs: "Tem alguma nova dos meninos hoje?", muitos me pediam, buscando distração na hora do cafezinho com cigarro (antes da invenção do fumódromo nas repartições, claro).

Com a chegada da aborrecência aqui em casa, o olhar bem humorado também foi ficando um pouco embaçado. Passei o ano todo com a vitrola engasgada: -Fizeram os deveres? Já estudaram? Olha as provas! Acoooooooordem!!!

Agora com o final do imenso ano letivo (Dr. Darcy, 200 dias de aulas é de campar..., não tem mãe que guente!) tô pronta prá relaxar, seja o que Deus quiser. E Ele quis diminuir minha neura pela metade passando Pedro direto prás férias de verão e deixando Rafael em recuperação de 5 matérias. Prefiro sempre as notícias más primeiro, por isso já sabia desde a semana passada do insucesso da criatura. Um dia de cagação de regra no penico/ouvido do primogênito, que protege o orgão abalado com fones de ipod: "Você brincou o ano inteiro, não quer nada com a hora do Brasil (?!) Vai puxar carroça!" e toda sorte de frases absorvidas ao longo de 10 anos de mocidade estudantil - à sombra do estandarte de Maria - como dizia o hino do Marista, onde estudei.
Peu me liga todo feliz na quarta-feira (Eparrei, minha mãe Iansã): - Mãe, se ligue (é isso mesmo, ele só fala assim) fui prá 7ª. Tão contente fiquei que apesar de uma horinha minúscula de almoço fui em casa fazer festa prá ele. Confesso que era uma estratégia de mãe, sabia que Rafa estava na escola em curso de recuperação e que lá passaria o dia porque foram 5, não esqueçam. Beijei, abracei, mostrei todo meu contentamento e ao final entrei num combinado, não tocaríamos mais no assunto para não "botar pressão" em Rafa, pois o mesmo precisava de estímulo para se dar bem nas provas. Peu todo solidariedade, concordou, compreendeu e achou bom e justo. À noite, nenhum comentário e mesmo quando Rafa encontrou o boletim de Pedro sobre a mesa, fiz posse de naturalidade: - Estude que no fim do mês é o seu.

Hoje, após dois dias de harmonia e tranquilidade, Pedro dá o bote. Passa da meia-noite e os dois imundos vendo tv. Erro tático, bato os olhos primeiro nele. - Você ainda não tomou banho? -Tô de férias, responde o moleque com aquela cara de quem tava esperando a deixa. - Qué quisso tem a ver, Peu, vai ficar até fevereiro sem banho?

-Não, mas Rafa tá na recuperação de 5 e também não tomou. Eu passei direto, quem tem mais direito, ele ou eu?

Pronto, começou o bate-boca, cachorro latindo e eu volto pras frases que nunca me deixaram:
"Parem com isso, olha os vizinhos! Nesta casa não se tem noção de hora? Parecem que nasceram em casa de esquina "(?!)...
*Peu e Rafa, em suas primeiras fotinhas escolares!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Eparréi, Iansã!




Ontem, 04 de dezembro, foi dia de comemorar uma das mais poderosas orixá do Candomblé: IANSÃ.

Como a Bahia tem religiosidade sincrética, Iansã e Santa Bárbara se misturam na fé e na devoção do povo baiano.

É maravilhoso chegar ao Pelourinho no início da manhã e ver aquela multidão em vermelho e branco - crianças, jovens, maduros e idosos - lotar a Igreja do Rosário dos Pretos, o largo do Pelourinho e o Taboão, cantando, rezando, dando santo, pagando promessa...
Após a missa, ainda durante o foguetório, a multidão se encaminha para a Baixa dos Sapateiros, onde vermelha que leva a Santa em seu andor até o Corpo de Bombeiros, para a homenagem da Corporação, até chegar ao Mercado onde o maior carurú do mundo é servido aos devotos. Durante muitos anos ouvi dizer que o Carurú de lá levava como ingrediente uma grande cobra, que o deixava exótico e gostoso. Será verdade ou lenda popular?



Nos casarões por toda a região mil carurús se realizam e o samba toma conta das sacadas, das ruas, numa festa profana e religiosa como só esta Cidade da Bahia sabe fazer.

Me impressiona o fato de na véspera quase sempre chover, com direito a mau tempo que inclui relâmpago e trovoada. Quase não chove nesta Cidade, trovoada então é coisa rara, mas não neste iniciar de dezembro, imperando a força da Santa - Rainha dos raios.

O que mais gosto na festa? Os senhores de mais de 70 anos, pessoas humildes e requintadas, vestidos nas suas calças sociais brancas, sapato social branco, meia vermelha, cinto branco, camisa de botão vermelha alinhadamente vestida por dentro da calça, lenço branco no bolso da camisa, anel de prata no dedo médio ou mindinho, corrente de ouro com crucifixo. Chique demais da conta!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Continental sem Filtro

Lendo hoje o blog de meu primo Cabaret - herói de minha infância nas lendas de MOC City (Montes Claros, norte de Minas) - sobre avanços científicos no combate ao cancer de pulmão, lembrei-me de uma cena ótima que assisti meu pai - apelidado de Mangangão por este primo-irmão de fino humor, protagonizar.
Meu pai, também Cometa ou Lizer para os íntimos, gabava-se politicamente incorreto de fumar desde os 11 anos. Era puro cigarro, no dizer de minha mãe, que reconhecia ser dele o travesseiro 50 cm antes de deitar distraidamente a cabeça no dito cujo, mesmo que do mesmo tamanho e forma e vestido de semelhante fronha.
Contava todo prosa que aos 30 e poucos anos, tendo tentado fazer um seguro de vida que protegesse os filhos e a mulher de uma sua possível falta, fora rejeitado pelo médico perito, por causa do histórico desabonador. "O Senhor vai antes de mim sem ter colocado um cigarro na boca", vaticinou. E não é que 3 meses depois viu no Jornal A Tarde a notícia do passamento do médico? "Fiz questão de ir no enterro, para honrar minha palavra!".
Pois aos 80 e poucos, entre um cafezinho e um cigarrinho que entremeavam seu sono em frente à televisão, após longo e cansativo dia de labor, escuta no Jornal Nacional a notícia que cientistas americanos (sempre eles!) haviam descoberto que fumantes possuidores de um tal cromossomo de cujo número esqueci NUNCA desenvolveriam câncer de pulmão. Só ouvi o grito vindo da sala: "Ah, eu tenho esse! Batata!"

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Prá quê discutir com a Madame?


O samba da minha terra deixa a gente mole, quando se samba todo mundo bole. Quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé!

Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros que nós queremos sambar! Porque o samba nasceu lá na Bahia e se hoje ele branco na poesia ele é negro demais no coração. Bahia de São Salvador, a terra do branco mulato, a terra do preto doutor. Eu faço samba e amor a noite inteira e tenho muito sono de manhã. Descobri que te amo demais, descobri em você minha paz, descobri sem querer a vida, verdade! O ouro afunda no mar, madeira fica por cima, ostra nasce do lodo, gerando pérolas finas. Tristeza, por favor vá embora, minha alma que chora, está vendo meu fim. A tristeza é senhora, desde que o samba é samba é assim. Samba Lelê tá doente, tá com a cabeça quebrada, Samba Lelê precisava, era de umas boas palmadas. Samba, samba,samba ô Lelê. Eu quero mas não quero, camará, mulher minha na função, está livre de um abraço, mas não está de um beliscão. Etelvina, acertei no bilhar, ganhei 500 contos não vou mais trabalhar! Você sabe o que é ter um amor, meu senhor, ter loucura por uma mulher? Oh, minha romântica senhora Tentação, não deixes que eu venha sucumbir, neste vendaval de paixão. Fazer poema lá na Vila é um brinquedo, ao som do samba dança até o arvoredo. O samba bem que podia, ter ministério algum dia. Dia de luz, festa do sol e o barquinho a deslizar no imenso azul do mar. Quás, quás, quás, quás, quás, faz carigundum, faz carigundum, faz carigundum. Bum bum batecumbumprugurundum, o nosso samba minha gente é isso aí! Ah, como é bom viver, é bom viver de amor e até morrer de amor é bom. Meu coração, não sei porque, bate feliz quando te vê. E o meu jardim da vida, ressecou, morreu, do chão que brotou Maria, nem Margarida nasceu. Encontrei Margarida Perfumada, como dava risada por também me encontrar. É água no mar, é maré cheia, ô, mareia ô, mareia. A Rita levou meu sorriso, no sorriso dela, meu assunto. Deixa a menina sambar em paz!

Madame diz que a raça não melhora

Que a vida piora por causa do samba

Madame diz que o samba tem pecado

Que o samba, coitado, devia acabar

Madame diz que o samba tem cachaça

Mistura de raça, mistura de cor

Madame diz que o samba é democrata

É música barata sem nenhum valor

Vamos acabar com o samba

Madame não gosta que ninguém sambe

Vive dizendo que o samba é vexame

Pra que discutir com Madame?


Viva 2 de dezembro, Dia do Samba!


Saravá Dorival Caymmi, Assis Valente, Baden Powell e Vinicius de Morais, Chico Buarque de Holanda, Nelson Rufino, Ederaldo Gentil, Haroldo Barbosa e Niltinho, Caetano Veloso e Gilberto Gil, Raimundo Sodré, Moreira da Silva, Lupicínio Rodrigues, Cartola, Noel Rosa, Batatinha, Tom Jobim, Adoniram Barbosa, João Nogueira e Edil Pacheco, Pixinguinha, Djavan, Carlinhos Brown, Romildo Bastos e Toninho, Haroldo Barbosa, e todos os sambistas brasileiros que não foram cantados aqui.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Laçinho vermelho no peito!

1º de dezembro - dia mundial da luta contra a AIDS



Sem preconceito, com bastante solidariedade para com os soropositivos, divulgando o excelente trabalho do Programa Nacional de DST e AIDS do Ministério da Saúde do Brasil, buscando novas formas de incentivo ao uso da camisinha por nossos jovens e maduros, contribuindo com a disseminação de informações sem moralismos, apoiando as ações de quem trabalha na área para com nossos conterrâneos e para com nossos irmãos da África - continente que mais sofre com a doença. Engajamento já!