sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Paixão de Carnaval


Me apaixonei no Carnaval pelo Fantasmão. A festa tem dessas coisas desde que me conheço por gente. A mídia se rende total aos jabás - soube que Ivete gastou os tubos para fazer de Dalila a música do ano, nem precisava, só ser de Brown e gravado por ela teria espaço suficiente nas rádios e na boca do povão. Ainda mais que trazia um célula de guitarra no meio da marchinha, que melodicamente justificava a falta de letra e a inexistente conexão com a personagem bíblica. Cláudia Leite também deve ter gasto muito com seu beijo na boca, assim como Daniela e Margot com sua prece à Yansã. Mas aparece um grupo de meninos PPs - pretos e pobres - que provavelmente moram muito longe e OBRIGAM a imprensa escrita, falada e televisada a prestar atenção neles. E haja suingue!

Ouvi falar do Fantasmão a primeira vez quando Regina Casé gravou seu quadro Periferia para o Fantástico, aqui em Salvador. Pagode, argh! Torci o nariz. Mas fiquei impressionada com todo o público de Plataforma, no subúrbio, cantando e dançando com aquela banda de camisolão e cara pintada de branco. Pensei, meu Deus, temos mundos tão distantes, nunca ouvi essa música e toda essa gente sabe de cor...

No fim do carnaval 2008 fui surpreendida por vários outdoors dizendo VALEU, FANTASMÃO! E pensei: os caras já estão com patrocinador e empresário marketeiro, mas torci o nariz de novo: pagode, argh!

Da janela do camarote de Daniela Mercury, na sexta de carnaval, já com o estômago embrulhado pela passagem de vários cantorezinhos de axé, que mandavam beijos para D. Lícia Fábio e D. Wanda Chase (os herdeiros do Cabeça Branca) numa tentativa de mostrar intimidade com o poder - vejo chegar um trio pessimamente sonorizado (frente em mute; lateral embolada e fundo ótimo), cheio de jovens da periferia liderado por um tal Eddy, de Catú, mortalhas brancas e cara metade branca metade sem pintura. Cheios de suingue!

Não mandaram beijos prá ninguém do camarote, não puxaram saco de ninguém, não quiseram aparecer falando bobagem. Fizeram uma única reverência: cantaram a música de trabalho deles, KUDURO, para elite presente. Arrassaram, botaram a paulistada prá dançar.

Prá não dizer que não falaram nada, uma briga deve ter pipocado embaixo do trio, embaixo do camarote (digo deve porque do camarote não se vê a rua, só o alto do trio) e o tal Eddy parou de cantar e disse: - Véio, vá brigar em outro lugar, que a gente tá começando, é um trabalho sério e vai sujar a nossa... Gostei do menino. Gostei ainda mais quando o trio passou deixando uma nuvem preta de oleo diesel na varanda do camarote, todo mundo tossindo. Nunca mais tinha visto isso!

Nos dias seguintes fui à rua e fiquei fascinanda: várias pessoas, pretas e pobres, foram para as avenidas com o rosto semi pintado de pasta d'agua.

Fui na terça ao Camarote do Ilê e vi na Castro Alves o sucesso do Fantasmão com a massa - já são quase um Chiclete com Banana. Com um trio mais potente de um bloco de mais recurso, Eddy fez discurso sobre a consciencia negra e abalou as estruturas. É pagode, mas é muito bom!
Prestem atenção a esse sorriso ingênuo e franco!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Muitos Carnavais


Carnaval é um vício. E como no alcoolismo, quando a pessoa tem um componente de dependência não se cura nunca. Experimenta bem pequenininho, vestido de pirata, aladim, baianinha, odalisca, cigana - ou chora, tem medo, fica de calundú (e logo que tem vontade própria abandona a festa) ou adora e sonha com o dia em que confete e serpentina, fantasia e música chegam de novo em sua vida. Vive então a fruir anualmente seus momentos de loucura. Na adolescência arruma uma turma bem animada e atrevida, e apronta cada uma que durante o resto da vida vai resgatar na memória cada vez que ouvir uma marchinha, uma guitarra baiana ou o bater do tambor. São os fisgados, os viciados...
Uns se entregam toda vez, não passam sem aquilo. Outros, mais racionais, vão e vem. Viajam para fugir do vício, pois se ficarem por perto, pode crer, sucumbem. Vão nem que seja para olhar, criticar, dizer que já não é mais a mesma coisa, que perdeu a graça, que perdeu a força e a tradição, mas desejam no fundo poder se entregar à bendita loucura!
Tragédia das boas é um carnavalesco casar com um não-carnavalesco. O carnavalesco é um incompreendido. Passa a conviver com um personagem interno que precisa ser escondido do outro. Tem uma dupla personalidade! Uma vozinha fininha de Careta que fala em sua cabeça. Precisa provar que amadureceu, que deixou para trás sua ludicidade, sua alegria sem motivo, sua vontade incontida de enlouquecer. Que drama pessoal! Só ele sabe que traz em si uma vontade irracional de enfiar o pé na jaca, de descer a ladeira sem por o pé no freio... Qual, se deixar, se aparecer um amigo das antigas, se tomar um primeiro gole, olha ele lá, desinibido, inventando um motivo para ir na festa, prá cair na farra, prá botar o bloco na rua.
O não-carnavalesco diz que quer aproveitar tantos dias para viajar - o carnavalesco faz a conta, não daria para ficar um dia ou dois antes de partir? Bom período para descansar - e o carnavesco descansa com um copo de cerveja assistindo o carnaval pela tv, balançando o pezinho. Será que quando estiver bem descansado pode ir dar uma cansadinha light na Avenida?

Hoje é terça-feira gorda de carnaval. Atenção para a última chamada!


foto: Aristeu Chagas

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pérolas Carnavalescas





Um amigo meu morava na Rua do Escravo Miguel, em Ondina, rua sem saída com uma balaustrada para o mar. No final da muvuca do circuito Barra-Ondina. Lotadíssima de gente em sua entrada, impedindo o ir-e-vir dos moradores. O prédio dele, no início de onde o pessoal já começava a rarear, a rua se tornando mais escura. Quinta a domingo a regra dos foliões já naturalmente estabelecida: um grupo de mijadores fazia uso do muro em frente e um grupo de maconheiros queimava fumo no final da rua. Segunda-feira ele sai cedo, aproveitando a possibilidade de transitar de carro e volta trazendo uma placa imensa plotada numa dessas copiadoras 24 h:



ATENÇÃO!
MACONHA AQUI, XIXI NO FIM DA RUA!!!



E justificou: - Porra, o cheiro da maconha passa rapidinho.




Bom carnaval a todos!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Festa de Itapuã

Hoje foi dia da lavagem de Itapuã. Muita gente já esqueceu esta que é a última festa de largo antes do carnaval soteropolitano. Acontece sempre na última quinta-feira antes do carnaval e acompanha a novena em homenagem à Nossa Senhora da Conceição de Itapuã, daquela igrejinha simpática na pracinha central do bairro.

Conheço a festa desde menina, veranista que sempre fui e digo que no passado era uma das minhas favoritas! Ao longo dos anos fui me distanciando, mais ou menos quando chegaram os trios elétricos e transformaram a pracinha num campo minado que chegava à meia noite com inúmeras vítimas contabilizadas. Há uns 15 anos inventaram do cortejo sair daqui da minha porta, em Piatã, e a festa voltou a fazer parte da minha vida pois ficávamos praticamente impossibilitados de sair de casa, pois para retornar só se fosse de madrugada quando o infernal engarrafamento tinha fim.

De manhã, uma delícia: baianas, carroças, cavalos, blocos de nativos e veranistas fantasiados ao som de bandinhas chupa-catarro (será que tem hífen?), crianças, famílias, bicicletas, amigos, sol, cervejinha... "vida enfeitada" como diria aquela musica de carnaval antiga. À tarde, o horror: só no ano passado contei 16 trios parados em minha porta, um som altíssimo de música da pior qualidade, baixe aí, pegue aqui, desce mainha, sobe neguinha, Carlinhos 1,2,3, som, som,som. Até meia noite impossível fazer qualquer coisa na casa que exijisse concentração, audição, atenção, etc. Depois do advento do arrocha então, melhor nem comentar!

Mas este 2009 a prefeitura proibiu os trios. Ah, os bons tempos voltaram! Acordei com os fogos de artifício anunciando a saída do cortejo e um sonzinho de batucada antiga acompanhando aquele soprinho rachado dos metais entoando o "somos da turma tricolor". Resolvi descer para conferir. Lembrei logo do Rei Momo Gerônimo, " ô cidade louca ". Se eu fosse Maria Sampaio teria levado uma máquina fotográfica (leia-se câmera digital, estou deixando a nostalgia tomar conta demais de mim, né?)e teria registrado uma porção de senhoras bem velhinhas que colocaram cadeiras plásticas na calçada e ali quedaram-se para ver a banda passar. Pescoços com colares coloridos, cabeças branquinhas portando chapeuzinhos de palha com furinhos, olhares de alegria e perninhas balançando no ritmo das marchinhas. Espiavam o quê mesmo? Nenhuma grande atração, nenhum cantor ou cantora de axé estourado nas rádios. Foram para lá enfeitar a vida, sair um pouco da rotina e ver gente!

Quando meus filhos eram pequenos quis mostrar para eles um pouco da festa e arrisquei levá-los até a rua para ver os trios. Ficamos na calçada e Rafa tomou nos peitos a reverberação da percussão, sentindo logo aquele mal estar decorrente do som das tuítas amplificadas no corpo.

- Mãe, quero subir. Samba me deixa enjoado.

Tentei explicar que não era o "samba", que não tinha nada a ver com o estilo musical, em vão. Voltamos para casa. A zoada insuportável tomava conta de todos os cantos, mas resolvi deitar na rede e ler uma revista. Não demorou muito e Rafa me chama: - Mãe, ainda tô enjoado. Bote o CD de Cássia Eller para ver se eu melhoro...


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Carnaval Século 21




Prometi a mim mesma tirar férias de tudo, até de computador. Por isso não escrevo desde 31 de dezembro. Estava me guardando prá quando o carnaval passasse. Mas ele mesmo, o carnaval, me trouxe de volta!

Não é mais necessário esperar até a Quarta Feira de Cinzas para acabar o Carnaval. O carnaval acabou! The dream is over!

Vou descendo a escada rolante de um shopping center da cidade e meus olhos acompanham a propaganda de um camarote all inclusive para o carnaval na Barra/Ondina:

All inclusive: atelier de ajustes/carnaval ao vivo/ espaço glamour/boite climatizada/segurança/internet

O "carnaval ao vivo" virou um ítem de lazer opcional de camarote. E está incluído no pacote, use vc ou não!

Socorro, Nossa Senhora do Frevo e do Maracatu!

Que bom seria se a nova Quaresma fosse 40 dias de jejum em homenagem ao Deus Mercado.