quinta-feira, 3 de junho de 2010

Maria, Jenipapo Absoluto

foto: Edvalma Santana

Conheço muita gente. Muita. Nunca conheci ninguém como Maria Sampaio. Maria é dessas pessoas absurdamente únicas. Luminosa. Incomum. Exposta. Dessas que a gente encontra na vida e parece que encontra a si mesmo. E parece que se encontra com toda a humanidade.

Que honra, meu Deus, ter me tornado sua amiga. E como ela fazia eu acreditar que minha amizade lhe era valorosa. Todas as amizades lhe eram valiosas. Era um dom de Maria.

Como estou triste, como estou me sentindo perdida em meus pensamentos. Saber que não mais lhe contarei meus casos engraçados e não mais a ouvirei atender o telefone dizendo "Hein?" ao invés de "AlÔ?". Não comerei mais fatias de parida em seu aniversário, não iremos mais "velsar e revelsar", e princípalmente, não receberei mais seu carinho de gestos mínimos, naturais, como passar aqui pelo blog e me deixar mensagens para que eu voltasse a escrever.

Maria, você sabe, porque te disse, mas vou repetir sempre: eu amo você! Muito, em qualquer lugar que eu ou você estejamos!

domingo, 1 de novembro de 2009

Vídeo macabro!


Coincidência ser 31 de outubro, o dia das Bruxas. Morre Neguinho do Samba e cala o Pelô.
Na internet, sempre ao lado da notícia o seu feito mais famoso: o genial arranjo da música de Michel Jackson, e o clipe gravado com o Olodum em 1996, que correu mundo e lhe rendeu notoriedade.

Um Michel totalmente branco dança ao lado de crianças negras como ele foi um dia.

Vale a pena rever They Don't Care About Us embora hoje me dê conta de ser um vídeo macabro:
morto Jacko, morto Neguinho e talvez mais da metade dos figurantes, de bala ou vício. Triste verdade.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

FALA, ARTISTA!


Como diz minha amiga MARIA SAMPAIO estou "apertada de trabalho", motivo pelo qual não tenho tido tempo nem boas idéias para escrever aqui.

Por isso, vou aproveitar a mídia para fazer propaganda de um evento que criei e com o qual pretendo comemorar os 12 anos à frente do Teatro Jorge Amado.

Na quarta feira, 12 de agosto, às 19 horas, convido os ARTISTAS da terra a participar de um encontro que batizei de FALA, ARTISTA! e que pretende ser locus para que possamos discutir as questões mais polêmicas que têm sido tricotadas pelos bastidores da cena baiana: política cultural, espaços públicos e privados, patrocínios, produções, arte!

Conto com a presença de todos e com a colaboração para divulgação do evento.

domingo, 26 de julho de 2009

Sucesso total, nesta segunda feira às 20:30h mais uma edição da SEGUNDA COM RUMPILEZZ

segunda-feira, 6 de julho de 2009

JACKO


Vivi quase todos esses anos de minha vida em paralelo à vida de Michael. Tenho 48 anos e ele faria 51. Quando ele começou a cantar aos 5 eu tinha 3 aninhos completos. Mas só fomos nos conhecer lá pelos anos 70, eu já vendo novela - Carinhoso, com Regina Duarte, Marcos Paulo e Cláudio Marzo e ele com vozinha de criança cantando Music And Me. Nas primeiras festinhas que fui já dançava de rosto rubro e colado Ben e All Be There. De tarde tomava vitamina e comia Biscoitos Tupy (melhores eu nunca vi!) assistindo na tv a série animada dos Jackson 5.

Acostumei-me assim a dividir a existência com um menino americano negro, cheio de bossa e suíngue, com uma carinha risonha que a minha pré adolescência feliz jamais pudera imaginar que sofresse. Nunca pensei se era fã de Michael, mas hoje me dou conta de que todo o inglês que sabia cabia nas letras daquelas músicas, mas músicas americanas povoavam tão somente as festinhas que ia para paquerar colegas da escola.

Só lembro de Michael criança e depois, já ficando meio branco, de nariz fino e cabelos encaracolados, dançando o passo da lua, fazendo trejeitos personalíssimos e chapando todo mundo com aqueles fantásticos clipes de Thriller , Billie Jean e Bad. Nada sei do tempo que se passou entre um e outro, mas sabia que crescíamos juntos e que ele e sua irmã, La Toya, iam ficando a mesma cara. Li em algum lugar que seu objetivo era ficar igual a Diana Ross - e ainda assim não desconfiei que sofresse.

Todas as outras bizarrices chegaram a mim sem causar espanto ou emoção mínima. Apenas acompanhava a vida que vai passando com a sua naturalidade. Casou-se com a filha de Elvis, construiu a Terra do Nunca, disse que tinha vitiligo, veio gravar com o Olodum, teve filhos com a enfermeira, molestou o menino esquecido pela família que a essa altura também já crescera, comprou as músicas dos Beatles, morou numa bolha por um tempo e foi ficando cada vez mais parecido com o ET, telefone, minha casa - a essa altura mais branco que eu, só que feio, com um nariz muito estranho, um lissíssimo cabelo chanel e uma máscara dessas que hoje estão na moda por conta da gripe suína. Comecei a me dar conta de que sofria...

Quando no São João anunciaram a morte de Jacko minha vida parou por alguns instantes. Dei-me conta que vivera todos aqueles anos em sua companhia, como um vizinho de longas datas, um colega de escola primária que faz conosco o ginásio, o colegial e a faculdade, e que vamos encontrando vida afora no supermercado, posto de gasolina, no carnaval, no shopping center, sem nos dar conta. Apenas um alegre oi, tudo bem? e a inconsciente constatação de que ainda está vivo e mora por perto. Sabemos se fez sucesso, mas nada de suas tragédias íntimas. E com sua parada cardíaca me dou conta de sua baixa auto-estima, sua incapacidade de crescer e sua gigantesca solidão. E todos esses anos se condensam em fração de segundos e pesam insuportavelmente em meu peito. Não o suspeitava tão transversalmente próximo.

sábado, 4 de julho de 2009

A Bahia ainda é assim...

Após dois anos de ausência fui quinta feira ver os festejos do 2 de Julho. Várias motivações para o retorno, a primeira delas a fúria que fiquei ao ver na programação da festa o show Axé de Claudia Leite no Farol da Barra. Ah, fiquei indignada! Justo o governo da "esquerda", aquele que ajudou a manter viva a tradição do 2 de julho, aproveitando-se, claro, do espaço democrático (mais ou menos pois tomou muita porrada da polícia de ACM e Cia para manter-se lá trás da fila, bem longe dos Caboclos e das Filarmônicas) para gritar palavras de ordem e desordem - mas de qualquer forma levando os ditos "formadores de opinião" a conviver com as delícias e a criatividade do povo de nossa terra.

Foi assim que quedei-me apaixonada por aquela festa cívica, tão louca quanto o carnaval, repleta de religiosidade - e quanto bem faz-me à alma ver aquele homem simples, paramentado de azul, vermelho e branco, fazendo o sinal da Cruz na passagem do carro da Cabocla! - quem, meu Deus, havera de entender tanta Maria Quitéria, Soror Joana Angélica e Castro Alves subindo e descendo ladeira lado a lado com Charles Chaplin, Michael Jackson e os Pelés - do trânsito e do tonél.

E quando a gente entra num momento de extase e quer que TODO MUNDO vá ao 2 de julho e deslumbre-se com toda aquela loucura, que nos diferencia e nos destaca, ELES inventam uma programação paralela para que o povão abandone as praças e vielas do trajeto Lapinha-Sé, e aglomere-se no altar do Axé para cantar em uníssono: "Eu quero mais é beijar na boca". Pronto! Ficou instituido o 2 de Julho Light, descendente direto do Bonfim Light e do Yemanjá Idem.

Outa motivação foi meus filhos, que conheceram a festa quando ainda eram bem pequenos, terem aceitado me acompanhar (ambos na recuperação, sem moral nenhuma para recusar meu convite). E que bom vivenciar o que meus filhos chamam de "herança cultural" - mico que os pais fazem os filhos pagarem ao submetê-los a um programa muito importante em suas infâncias (lá nossas, dos pais). Nem ligo, no fundo adoram e assim fica garantida a perpetuação da espécie.

A terceira motivação foi o insistente convite da classe artística a comparecer para gritar palavras de ordem e desordem com relação à situação da Cultura em nossa cidade. Não cheguei a tempo de ver o fusuê armado (seria demais esperar que os meninos acordassem e estivessem prontos a sair de casa às 9!) , mas de saber, ao vivo e a cores, que o mitiê abalou o cortejo.

Mas o melhor do 2 de julho deste ano foi perceber que a Bahia ainda é assim... uma província onde todo mundo que se conhece se encontra, qual nos meus tempos de adolescência. E foi a gente chegando no Largo do Pelô e encontrando amigos, vizinhos de outros tempos, colegas de trabalho atual e passados, familiares distantes e comadrinhagem etílica.

Numa pausa do sol de rachar (de fato brilhou mais que no 1º) entramos na Fundação Casa de Jorge Amado e olha lá, que prazer, que felicidade, minha amiga Maria Sampaio tomando uma fresca e relaxando a máquina de tirar retrato na mesinha do Café de D. Zélia (que estaria completando anos naquele dia, tão baiana Zélia Gattai), com as meninas: Beth Capinam, D. Clara Veloso e Aninha Franco.

Saí de lá a tempo de vaiar a passagem de Geddel ao lado de Valda Abud, companheira das manhãs de luta no Projeto Axé, e subir a ladeira rumo ao Terreiro de Yesus, entre uma bandinha tocando o Já Podeis e uma fanfarra tocando Taí, junto com minhas amigas Vera e Margareth Leonelli, Rita Lagrota e Jurandir Vilela.

Ficamos assistindo uma banda de escola que executava uma homenagem póstuma ao incrível Jacko e encontrando amigos queridos e possíveis clientes com bom prognóstico para fechar ótimos negócios chegamos até os pés dos Caboclos que pararam para descansar na Praça Municipal. Ali, olhos prostados nos símbolos máximos de nossa heróica e gloriosa data, como se nunca antes os tivéssemos visto.

Andamos tudo de volta, não sem antes tomarmos um sorvete na Cubana e admirarmos a bela vista da balaustrada do Elevador Lacerda!

Lá vinha ACM Neto, numa muquequinha de anturragem, agora é ele no fim da fila! É a VOLTA DA CABOCLA! Saravá, Cruz Credo! Ali o encontro de mais amigos: Antrifo e Bassan.
Ô Bahia que as ruas são estreitas e o coração largo...


todas as fotos do google imagens!