domingo, 1 de novembro de 2009

Vídeo macabro!


Coincidência ser 31 de outubro, o dia das Bruxas. Morre Neguinho do Samba e cala o Pelô.
Na internet, sempre ao lado da notícia o seu feito mais famoso: o genial arranjo da música de Michel Jackson, e o clipe gravado com o Olodum em 1996, que correu mundo e lhe rendeu notoriedade.

Um Michel totalmente branco dança ao lado de crianças negras como ele foi um dia.

Vale a pena rever They Don't Care About Us embora hoje me dê conta de ser um vídeo macabro:
morto Jacko, morto Neguinho e talvez mais da metade dos figurantes, de bala ou vício. Triste verdade.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

FALA, ARTISTA!


Como diz minha amiga MARIA SAMPAIO estou "apertada de trabalho", motivo pelo qual não tenho tido tempo nem boas idéias para escrever aqui.

Por isso, vou aproveitar a mídia para fazer propaganda de um evento que criei e com o qual pretendo comemorar os 12 anos à frente do Teatro Jorge Amado.

Na quarta feira, 12 de agosto, às 19 horas, convido os ARTISTAS da terra a participar de um encontro que batizei de FALA, ARTISTA! e que pretende ser locus para que possamos discutir as questões mais polêmicas que têm sido tricotadas pelos bastidores da cena baiana: política cultural, espaços públicos e privados, patrocínios, produções, arte!

Conto com a presença de todos e com a colaboração para divulgação do evento.

domingo, 26 de julho de 2009

Sucesso total, nesta segunda feira às 20:30h mais uma edição da SEGUNDA COM RUMPILEZZ

segunda-feira, 6 de julho de 2009

JACKO


Vivi quase todos esses anos de minha vida em paralelo à vida de Michael. Tenho 48 anos e ele faria 51. Quando ele começou a cantar aos 5 eu tinha 3 aninhos completos. Mas só fomos nos conhecer lá pelos anos 70, eu já vendo novela - Carinhoso, com Regina Duarte, Marcos Paulo e Cláudio Marzo e ele com vozinha de criança cantando Music And Me. Nas primeiras festinhas que fui já dançava de rosto rubro e colado Ben e All Be There. De tarde tomava vitamina e comia Biscoitos Tupy (melhores eu nunca vi!) assistindo na tv a série animada dos Jackson 5.

Acostumei-me assim a dividir a existência com um menino americano negro, cheio de bossa e suíngue, com uma carinha risonha que a minha pré adolescência feliz jamais pudera imaginar que sofresse. Nunca pensei se era fã de Michael, mas hoje me dou conta de que todo o inglês que sabia cabia nas letras daquelas músicas, mas músicas americanas povoavam tão somente as festinhas que ia para paquerar colegas da escola.

Só lembro de Michael criança e depois, já ficando meio branco, de nariz fino e cabelos encaracolados, dançando o passo da lua, fazendo trejeitos personalíssimos e chapando todo mundo com aqueles fantásticos clipes de Thriller , Billie Jean e Bad. Nada sei do tempo que se passou entre um e outro, mas sabia que crescíamos juntos e que ele e sua irmã, La Toya, iam ficando a mesma cara. Li em algum lugar que seu objetivo era ficar igual a Diana Ross - e ainda assim não desconfiei que sofresse.

Todas as outras bizarrices chegaram a mim sem causar espanto ou emoção mínima. Apenas acompanhava a vida que vai passando com a sua naturalidade. Casou-se com a filha de Elvis, construiu a Terra do Nunca, disse que tinha vitiligo, veio gravar com o Olodum, teve filhos com a enfermeira, molestou o menino esquecido pela família que a essa altura também já crescera, comprou as músicas dos Beatles, morou numa bolha por um tempo e foi ficando cada vez mais parecido com o ET, telefone, minha casa - a essa altura mais branco que eu, só que feio, com um nariz muito estranho, um lissíssimo cabelo chanel e uma máscara dessas que hoje estão na moda por conta da gripe suína. Comecei a me dar conta de que sofria...

Quando no São João anunciaram a morte de Jacko minha vida parou por alguns instantes. Dei-me conta que vivera todos aqueles anos em sua companhia, como um vizinho de longas datas, um colega de escola primária que faz conosco o ginásio, o colegial e a faculdade, e que vamos encontrando vida afora no supermercado, posto de gasolina, no carnaval, no shopping center, sem nos dar conta. Apenas um alegre oi, tudo bem? e a inconsciente constatação de que ainda está vivo e mora por perto. Sabemos se fez sucesso, mas nada de suas tragédias íntimas. E com sua parada cardíaca me dou conta de sua baixa auto-estima, sua incapacidade de crescer e sua gigantesca solidão. E todos esses anos se condensam em fração de segundos e pesam insuportavelmente em meu peito. Não o suspeitava tão transversalmente próximo.

sábado, 4 de julho de 2009

A Bahia ainda é assim...

Após dois anos de ausência fui quinta feira ver os festejos do 2 de Julho. Várias motivações para o retorno, a primeira delas a fúria que fiquei ao ver na programação da festa o show Axé de Claudia Leite no Farol da Barra. Ah, fiquei indignada! Justo o governo da "esquerda", aquele que ajudou a manter viva a tradição do 2 de julho, aproveitando-se, claro, do espaço democrático (mais ou menos pois tomou muita porrada da polícia de ACM e Cia para manter-se lá trás da fila, bem longe dos Caboclos e das Filarmônicas) para gritar palavras de ordem e desordem - mas de qualquer forma levando os ditos "formadores de opinião" a conviver com as delícias e a criatividade do povo de nossa terra.

Foi assim que quedei-me apaixonada por aquela festa cívica, tão louca quanto o carnaval, repleta de religiosidade - e quanto bem faz-me à alma ver aquele homem simples, paramentado de azul, vermelho e branco, fazendo o sinal da Cruz na passagem do carro da Cabocla! - quem, meu Deus, havera de entender tanta Maria Quitéria, Soror Joana Angélica e Castro Alves subindo e descendo ladeira lado a lado com Charles Chaplin, Michael Jackson e os Pelés - do trânsito e do tonél.

E quando a gente entra num momento de extase e quer que TODO MUNDO vá ao 2 de julho e deslumbre-se com toda aquela loucura, que nos diferencia e nos destaca, ELES inventam uma programação paralela para que o povão abandone as praças e vielas do trajeto Lapinha-Sé, e aglomere-se no altar do Axé para cantar em uníssono: "Eu quero mais é beijar na boca". Pronto! Ficou instituido o 2 de Julho Light, descendente direto do Bonfim Light e do Yemanjá Idem.

Outa motivação foi meus filhos, que conheceram a festa quando ainda eram bem pequenos, terem aceitado me acompanhar (ambos na recuperação, sem moral nenhuma para recusar meu convite). E que bom vivenciar o que meus filhos chamam de "herança cultural" - mico que os pais fazem os filhos pagarem ao submetê-los a um programa muito importante em suas infâncias (lá nossas, dos pais). Nem ligo, no fundo adoram e assim fica garantida a perpetuação da espécie.

A terceira motivação foi o insistente convite da classe artística a comparecer para gritar palavras de ordem e desordem com relação à situação da Cultura em nossa cidade. Não cheguei a tempo de ver o fusuê armado (seria demais esperar que os meninos acordassem e estivessem prontos a sair de casa às 9!) , mas de saber, ao vivo e a cores, que o mitiê abalou o cortejo.

Mas o melhor do 2 de julho deste ano foi perceber que a Bahia ainda é assim... uma província onde todo mundo que se conhece se encontra, qual nos meus tempos de adolescência. E foi a gente chegando no Largo do Pelô e encontrando amigos, vizinhos de outros tempos, colegas de trabalho atual e passados, familiares distantes e comadrinhagem etílica.

Numa pausa do sol de rachar (de fato brilhou mais que no 1º) entramos na Fundação Casa de Jorge Amado e olha lá, que prazer, que felicidade, minha amiga Maria Sampaio tomando uma fresca e relaxando a máquina de tirar retrato na mesinha do Café de D. Zélia (que estaria completando anos naquele dia, tão baiana Zélia Gattai), com as meninas: Beth Capinam, D. Clara Veloso e Aninha Franco.

Saí de lá a tempo de vaiar a passagem de Geddel ao lado de Valda Abud, companheira das manhãs de luta no Projeto Axé, e subir a ladeira rumo ao Terreiro de Yesus, entre uma bandinha tocando o Já Podeis e uma fanfarra tocando Taí, junto com minhas amigas Vera e Margareth Leonelli, Rita Lagrota e Jurandir Vilela.

Ficamos assistindo uma banda de escola que executava uma homenagem póstuma ao incrível Jacko e encontrando amigos queridos e possíveis clientes com bom prognóstico para fechar ótimos negócios chegamos até os pés dos Caboclos que pararam para descansar na Praça Municipal. Ali, olhos prostados nos símbolos máximos de nossa heróica e gloriosa data, como se nunca antes os tivéssemos visto.

Andamos tudo de volta, não sem antes tomarmos um sorvete na Cubana e admirarmos a bela vista da balaustrada do Elevador Lacerda!

Lá vinha ACM Neto, numa muquequinha de anturragem, agora é ele no fim da fila! É a VOLTA DA CABOCLA! Saravá, Cruz Credo! Ali o encontro de mais amigos: Antrifo e Bassan.
Ô Bahia que as ruas são estreitas e o coração largo...


todas as fotos do google imagens!






sexta-feira, 10 de abril de 2009

Semana Santa


Quando era menina Sexta-feira Santa era um terror! Um silencio se abatia sobre a casa com 6 crianças! Como era possível, meu Deus? Tá bom, podíamos ir à praia, se fizesse sol, afinal era feriado. Mas o ambiente na Rural de meu pai era completamente diferente. Ninguém se atrevia a brigar pelo lugar nas janelas. Nada de baticum no fundo-mala lugar dos menores. Beliscões disfarçados, peidos às gargalhadas? Nada. O dia passava sem uma musiquinha. Assoviar? Pecado dos bons. Comer podia, e muito. Peixe de moqueca, vatapá, carurú, frigideira de siri, feijão de leite. Empanturrávamo-nos. Ovos de chocolate? Só domingo, se não, sacrilégio! Loucos então ficávamos pelo Sábado de Aleluia, dia de festa e de vingança - o mais infantil dos sentimentos. Já podíamos cantar, passávamos a tarde enrolando jornal e construindo pernas, braços, tronco, cabeça. Enchendo os jornais de bombas. Revirando os armários atrás de roupas velhas para vestir o Judas, que seria queimado enforcado com um saquinho de nicas na mão. Testamento palhaçento, não podia faltar ninguém nem seus defeitos. Na hora H tampas de panelas nas mãos da meninada e gritos, risadas, frenesi. O fogo devorando o pobre boneco que explodia aqui e ali como se isso fosse muito justo. Quem mandou trair Jesus?

O Domingo de Páscoa era sem graça. Praia, a feijoada com lombo paulista de sempre. Ufa, finalmente livres do peixe. Ô coisa que enjoava rápido era peixe. Comia-se carne a semana inteira, uma vez, às sextas, peixe. Se fosse para comer no sábado de novo, um levante! Peixe de novo? Ah, não!

Não tinha essa farra de ovos de chocolate, nem eram tão grandes. Um pedaço para cada um, nada de surpresas dentro. Nada de sair distribuindo ovos para todo mundo. Festa de casa. Dia comum. Nem missa, nem reza. Mas era um "Dia de Hoje" onde não podíamos brigar nem ser mal-criados.

A tarde madorrenta era consumida na tv, vendo Sansão e Dalila, O Manto Sagrado, Ben-Hur e A Vida de Cristo.


Foto: Téo, Rafael, Pedro e Maria rezando o Pai Nosso para ganhar seus ovinhos (vões) de Páscoa.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Nova fase


Juro que a partir de hoje só direi a verdade, nada mais que a verdade.

Falarei menos, para não ter que exercê-la demasiadamente. Acordarei cedo, melhor, dormirei bem cedo. Esquecerei nomes e números que não me sirvam para nada. Não me incomodarei com a vida de Senhor Ninguém. Farei ginástica todos os dias, malhação pesada. Não fumarei mais nenhum cigarro. Passarei a almoçar em restaurantes vegetarianos e encherei meu prato de abobrinha recheada e suflê de cenoura. Minha sobremesa favorita será banana passa e beberei suco de abacaxi com hortelã no lugar de coca zero. Não darei risadas, não jogarei conversa fora, não me distrairei pensando na morte da bezerra quanto mais difícil seja o trabalho à mesa em minha frente.

Não mais cantarolarei velhas musiquinhas na minha cabeça enquanto persisto no engarrafamento, buscarei concentrar-me em pensamentos importantes e consequentes. Tudo será levado por mim na ponta da faca, e aquilo que não me fizer sentido lógico será intransigentemente extirpado. Direi muitos nãos, sem hesitar. Só vestirei cores escuras e modelitos clássicos e sóbrios. Porei gasolina no carro assim que o ponteiro descolar do tanque cheio. Deixarei o frentista verificar o óleo e a água permanentemente. Não atenderei celular almoçando, dormindo, dirigindo ou mijando. Fecharei cuidadosamente a minha bolsa sempre que sair de ambientes conhecidos. E devolverei imediatamente o cartão de crédito à carteira assim que termine de usá-lo. Terei sempre algum dinheiro na carteira, precavida que serei com as situações inesperadas.

Ah, e principalmente, serei pontual em todos os compromissos e não tolerarei atrasos sob nenhuma circustância.

domingo, 29 de março de 2009

Salvador, eu vou comer seu bolo...


A Cidade da Bahia - Cidade do Salvador - está completando neste domingo que espero ensolarado, 460 anos. Conquanto a minha indisfarçada alegria, por ser indisfarçável o amor que nos habita, há a pirraça em contestar lugar comum, pois de tanto que brigamos e brigamos estou sempre sem querer dar-lhe o gostinho, magoada que fico com sua teimosia sem limites.

E haja desigualdade, prepotência, discriminação, insensibilidade, cinismo e hipocrisia.

Cheiro bom de dendê e ruim de mijo... povo bom e mal educado... pobres sem noção e ricos com imensa perversão.

Hospitais e escolas à mingua e projetos milionários de orlas e pontes. E os governantes? Não sabem governar suas cozinhas e podem governar o mundo inteiro, como dizia Gregório.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Professor Gey

Ah, a vida, esse estranho enigma.
Ciclos que se abrem, ciclos que se fecham.
Não queria pensar na morte de Gey Espinheira quando, ao final do ano passado, trabalhei com ele no processo de planejamento do Projeto Axé. Magrinho, devagarinho, quase sem voz. Mas a mente arejadíssima e a verve guerreira rechassavam as poucas condições físicas. Um gigante, esse Mestre Gey.
Homenagens com tons de despedidas pipocavam pela cidade. Todos que beberam de sua inteligência e erudição queriam poder dizer do GRANDE homem que ele era.
A Bahia precisa reverenciar a CORAGEM e a SABEDORIA desse SER DE LUZ!
Triste, busco no imenso privilegio de tê-lo conhecido a pista não para desvendar o tal ENIGMA DA VIDA, mas para continuar tentando...

domingo, 8 de março de 2009

Dia Internacional da Uuman

E hoje é mais um DIA DA MULÉ.
Sempre achei muito chato o tal dia internacional da Mulé. Como este ano cai num domingo, será muito mais o dia do níver do meu querido sobrinho Téo, ou da minha não conhecida mas muito falada avó materna, Dadá. São motivos mais reais de serem celebrados por mim. Acho chato porque chego no trabalho e desde o porteiro ao colega de trabalho - homens, claro - vão logo dando parabéns e meu cérebro lento da noite pouco dormida e do hábito de tentar organizar mentalmente a agenda do dia nos primeiros raios da manhã, vai tentando decifrar aquele código - meu níver já passou, não fui promovida, não ganhei na loto, não ganhei nenhum concurso... Ai, meu Deus... que dia é hoje? Abro um sorriso amarelo... Ah... Obrigada!
Abro os emails e olha lá... um monte de mensagens emocion puro de AMIGAS ( só as mulheres fazem isso!) me desejam bom dia me comparando a mulheres guerreiras, mulheres lindas e maravilhosas, daquelas que se viram nos 30 sem que o batom saia da boca... E já estou quase acreditando que somos mesmo seres especiais e superiores e o telefone começa a tocar e a primeira coisa que o cliente diz é:
- Parabéns pelo dia de HOJE!!!
Penso que preferia ter tido folga e dormido até o meio dia, diminuindo o número de obrigadas fingidos que vou ter repetir até que volte para casa onde, felizmente, ninguém se lembra disso pois importante mesmo é o aniversário de Téo e o bolo que vamos comer na casa dele. Só de vingança entro em sua casa desejando a Suzana, minha cunhada (que é professora e deve ter sofrido bem mais do que eu o dia todo), um "parabéns pelo seu dia". Pelo franzir da boca que ela me devolve me sinto acolhida em minhas chatices! Ufa, sou uma mulher normal!
Mas hoje é domingo e passaremos um DIA DA MULÉ mais tranquilo, graças!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Paixão de Carnaval


Me apaixonei no Carnaval pelo Fantasmão. A festa tem dessas coisas desde que me conheço por gente. A mídia se rende total aos jabás - soube que Ivete gastou os tubos para fazer de Dalila a música do ano, nem precisava, só ser de Brown e gravado por ela teria espaço suficiente nas rádios e na boca do povão. Ainda mais que trazia um célula de guitarra no meio da marchinha, que melodicamente justificava a falta de letra e a inexistente conexão com a personagem bíblica. Cláudia Leite também deve ter gasto muito com seu beijo na boca, assim como Daniela e Margot com sua prece à Yansã. Mas aparece um grupo de meninos PPs - pretos e pobres - que provavelmente moram muito longe e OBRIGAM a imprensa escrita, falada e televisada a prestar atenção neles. E haja suingue!

Ouvi falar do Fantasmão a primeira vez quando Regina Casé gravou seu quadro Periferia para o Fantástico, aqui em Salvador. Pagode, argh! Torci o nariz. Mas fiquei impressionada com todo o público de Plataforma, no subúrbio, cantando e dançando com aquela banda de camisolão e cara pintada de branco. Pensei, meu Deus, temos mundos tão distantes, nunca ouvi essa música e toda essa gente sabe de cor...

No fim do carnaval 2008 fui surpreendida por vários outdoors dizendo VALEU, FANTASMÃO! E pensei: os caras já estão com patrocinador e empresário marketeiro, mas torci o nariz de novo: pagode, argh!

Da janela do camarote de Daniela Mercury, na sexta de carnaval, já com o estômago embrulhado pela passagem de vários cantorezinhos de axé, que mandavam beijos para D. Lícia Fábio e D. Wanda Chase (os herdeiros do Cabeça Branca) numa tentativa de mostrar intimidade com o poder - vejo chegar um trio pessimamente sonorizado (frente em mute; lateral embolada e fundo ótimo), cheio de jovens da periferia liderado por um tal Eddy, de Catú, mortalhas brancas e cara metade branca metade sem pintura. Cheios de suingue!

Não mandaram beijos prá ninguém do camarote, não puxaram saco de ninguém, não quiseram aparecer falando bobagem. Fizeram uma única reverência: cantaram a música de trabalho deles, KUDURO, para elite presente. Arrassaram, botaram a paulistada prá dançar.

Prá não dizer que não falaram nada, uma briga deve ter pipocado embaixo do trio, embaixo do camarote (digo deve porque do camarote não se vê a rua, só o alto do trio) e o tal Eddy parou de cantar e disse: - Véio, vá brigar em outro lugar, que a gente tá começando, é um trabalho sério e vai sujar a nossa... Gostei do menino. Gostei ainda mais quando o trio passou deixando uma nuvem preta de oleo diesel na varanda do camarote, todo mundo tossindo. Nunca mais tinha visto isso!

Nos dias seguintes fui à rua e fiquei fascinanda: várias pessoas, pretas e pobres, foram para as avenidas com o rosto semi pintado de pasta d'agua.

Fui na terça ao Camarote do Ilê e vi na Castro Alves o sucesso do Fantasmão com a massa - já são quase um Chiclete com Banana. Com um trio mais potente de um bloco de mais recurso, Eddy fez discurso sobre a consciencia negra e abalou as estruturas. É pagode, mas é muito bom!
Prestem atenção a esse sorriso ingênuo e franco!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Muitos Carnavais


Carnaval é um vício. E como no alcoolismo, quando a pessoa tem um componente de dependência não se cura nunca. Experimenta bem pequenininho, vestido de pirata, aladim, baianinha, odalisca, cigana - ou chora, tem medo, fica de calundú (e logo que tem vontade própria abandona a festa) ou adora e sonha com o dia em que confete e serpentina, fantasia e música chegam de novo em sua vida. Vive então a fruir anualmente seus momentos de loucura. Na adolescência arruma uma turma bem animada e atrevida, e apronta cada uma que durante o resto da vida vai resgatar na memória cada vez que ouvir uma marchinha, uma guitarra baiana ou o bater do tambor. São os fisgados, os viciados...
Uns se entregam toda vez, não passam sem aquilo. Outros, mais racionais, vão e vem. Viajam para fugir do vício, pois se ficarem por perto, pode crer, sucumbem. Vão nem que seja para olhar, criticar, dizer que já não é mais a mesma coisa, que perdeu a graça, que perdeu a força e a tradição, mas desejam no fundo poder se entregar à bendita loucura!
Tragédia das boas é um carnavalesco casar com um não-carnavalesco. O carnavalesco é um incompreendido. Passa a conviver com um personagem interno que precisa ser escondido do outro. Tem uma dupla personalidade! Uma vozinha fininha de Careta que fala em sua cabeça. Precisa provar que amadureceu, que deixou para trás sua ludicidade, sua alegria sem motivo, sua vontade incontida de enlouquecer. Que drama pessoal! Só ele sabe que traz em si uma vontade irracional de enfiar o pé na jaca, de descer a ladeira sem por o pé no freio... Qual, se deixar, se aparecer um amigo das antigas, se tomar um primeiro gole, olha ele lá, desinibido, inventando um motivo para ir na festa, prá cair na farra, prá botar o bloco na rua.
O não-carnavalesco diz que quer aproveitar tantos dias para viajar - o carnavalesco faz a conta, não daria para ficar um dia ou dois antes de partir? Bom período para descansar - e o carnavesco descansa com um copo de cerveja assistindo o carnaval pela tv, balançando o pezinho. Será que quando estiver bem descansado pode ir dar uma cansadinha light na Avenida?

Hoje é terça-feira gorda de carnaval. Atenção para a última chamada!


foto: Aristeu Chagas

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pérolas Carnavalescas





Um amigo meu morava na Rua do Escravo Miguel, em Ondina, rua sem saída com uma balaustrada para o mar. No final da muvuca do circuito Barra-Ondina. Lotadíssima de gente em sua entrada, impedindo o ir-e-vir dos moradores. O prédio dele, no início de onde o pessoal já começava a rarear, a rua se tornando mais escura. Quinta a domingo a regra dos foliões já naturalmente estabelecida: um grupo de mijadores fazia uso do muro em frente e um grupo de maconheiros queimava fumo no final da rua. Segunda-feira ele sai cedo, aproveitando a possibilidade de transitar de carro e volta trazendo uma placa imensa plotada numa dessas copiadoras 24 h:



ATENÇÃO!
MACONHA AQUI, XIXI NO FIM DA RUA!!!



E justificou: - Porra, o cheiro da maconha passa rapidinho.




Bom carnaval a todos!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Festa de Itapuã

Hoje foi dia da lavagem de Itapuã. Muita gente já esqueceu esta que é a última festa de largo antes do carnaval soteropolitano. Acontece sempre na última quinta-feira antes do carnaval e acompanha a novena em homenagem à Nossa Senhora da Conceição de Itapuã, daquela igrejinha simpática na pracinha central do bairro.

Conheço a festa desde menina, veranista que sempre fui e digo que no passado era uma das minhas favoritas! Ao longo dos anos fui me distanciando, mais ou menos quando chegaram os trios elétricos e transformaram a pracinha num campo minado que chegava à meia noite com inúmeras vítimas contabilizadas. Há uns 15 anos inventaram do cortejo sair daqui da minha porta, em Piatã, e a festa voltou a fazer parte da minha vida pois ficávamos praticamente impossibilitados de sair de casa, pois para retornar só se fosse de madrugada quando o infernal engarrafamento tinha fim.

De manhã, uma delícia: baianas, carroças, cavalos, blocos de nativos e veranistas fantasiados ao som de bandinhas chupa-catarro (será que tem hífen?), crianças, famílias, bicicletas, amigos, sol, cervejinha... "vida enfeitada" como diria aquela musica de carnaval antiga. À tarde, o horror: só no ano passado contei 16 trios parados em minha porta, um som altíssimo de música da pior qualidade, baixe aí, pegue aqui, desce mainha, sobe neguinha, Carlinhos 1,2,3, som, som,som. Até meia noite impossível fazer qualquer coisa na casa que exijisse concentração, audição, atenção, etc. Depois do advento do arrocha então, melhor nem comentar!

Mas este 2009 a prefeitura proibiu os trios. Ah, os bons tempos voltaram! Acordei com os fogos de artifício anunciando a saída do cortejo e um sonzinho de batucada antiga acompanhando aquele soprinho rachado dos metais entoando o "somos da turma tricolor". Resolvi descer para conferir. Lembrei logo do Rei Momo Gerônimo, " ô cidade louca ". Se eu fosse Maria Sampaio teria levado uma máquina fotográfica (leia-se câmera digital, estou deixando a nostalgia tomar conta demais de mim, né?)e teria registrado uma porção de senhoras bem velhinhas que colocaram cadeiras plásticas na calçada e ali quedaram-se para ver a banda passar. Pescoços com colares coloridos, cabeças branquinhas portando chapeuzinhos de palha com furinhos, olhares de alegria e perninhas balançando no ritmo das marchinhas. Espiavam o quê mesmo? Nenhuma grande atração, nenhum cantor ou cantora de axé estourado nas rádios. Foram para lá enfeitar a vida, sair um pouco da rotina e ver gente!

Quando meus filhos eram pequenos quis mostrar para eles um pouco da festa e arrisquei levá-los até a rua para ver os trios. Ficamos na calçada e Rafa tomou nos peitos a reverberação da percussão, sentindo logo aquele mal estar decorrente do som das tuítas amplificadas no corpo.

- Mãe, quero subir. Samba me deixa enjoado.

Tentei explicar que não era o "samba", que não tinha nada a ver com o estilo musical, em vão. Voltamos para casa. A zoada insuportável tomava conta de todos os cantos, mas resolvi deitar na rede e ler uma revista. Não demorou muito e Rafa me chama: - Mãe, ainda tô enjoado. Bote o CD de Cássia Eller para ver se eu melhoro...


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Carnaval Século 21




Prometi a mim mesma tirar férias de tudo, até de computador. Por isso não escrevo desde 31 de dezembro. Estava me guardando prá quando o carnaval passasse. Mas ele mesmo, o carnaval, me trouxe de volta!

Não é mais necessário esperar até a Quarta Feira de Cinzas para acabar o Carnaval. O carnaval acabou! The dream is over!

Vou descendo a escada rolante de um shopping center da cidade e meus olhos acompanham a propaganda de um camarote all inclusive para o carnaval na Barra/Ondina:

All inclusive: atelier de ajustes/carnaval ao vivo/ espaço glamour/boite climatizada/segurança/internet

O "carnaval ao vivo" virou um ítem de lazer opcional de camarote. E está incluído no pacote, use vc ou não!

Socorro, Nossa Senhora do Frevo e do Maracatu!

Que bom seria se a nova Quaresma fosse 40 dias de jejum em homenagem ao Deus Mercado.