sexta-feira, 10 de abril de 2009

Semana Santa


Quando era menina Sexta-feira Santa era um terror! Um silencio se abatia sobre a casa com 6 crianças! Como era possível, meu Deus? Tá bom, podíamos ir à praia, se fizesse sol, afinal era feriado. Mas o ambiente na Rural de meu pai era completamente diferente. Ninguém se atrevia a brigar pelo lugar nas janelas. Nada de baticum no fundo-mala lugar dos menores. Beliscões disfarçados, peidos às gargalhadas? Nada. O dia passava sem uma musiquinha. Assoviar? Pecado dos bons. Comer podia, e muito. Peixe de moqueca, vatapá, carurú, frigideira de siri, feijão de leite. Empanturrávamo-nos. Ovos de chocolate? Só domingo, se não, sacrilégio! Loucos então ficávamos pelo Sábado de Aleluia, dia de festa e de vingança - o mais infantil dos sentimentos. Já podíamos cantar, passávamos a tarde enrolando jornal e construindo pernas, braços, tronco, cabeça. Enchendo os jornais de bombas. Revirando os armários atrás de roupas velhas para vestir o Judas, que seria queimado enforcado com um saquinho de nicas na mão. Testamento palhaçento, não podia faltar ninguém nem seus defeitos. Na hora H tampas de panelas nas mãos da meninada e gritos, risadas, frenesi. O fogo devorando o pobre boneco que explodia aqui e ali como se isso fosse muito justo. Quem mandou trair Jesus?

O Domingo de Páscoa era sem graça. Praia, a feijoada com lombo paulista de sempre. Ufa, finalmente livres do peixe. Ô coisa que enjoava rápido era peixe. Comia-se carne a semana inteira, uma vez, às sextas, peixe. Se fosse para comer no sábado de novo, um levante! Peixe de novo? Ah, não!

Não tinha essa farra de ovos de chocolate, nem eram tão grandes. Um pedaço para cada um, nada de surpresas dentro. Nada de sair distribuindo ovos para todo mundo. Festa de casa. Dia comum. Nem missa, nem reza. Mas era um "Dia de Hoje" onde não podíamos brigar nem ser mal-criados.

A tarde madorrenta era consumida na tv, vendo Sansão e Dalila, O Manto Sagrado, Ben-Hur e A Vida de Cristo.


Foto: Téo, Rafael, Pedro e Maria rezando o Pai Nosso para ganhar seus ovinhos (vões) de Páscoa.

5 comentários:

Unknown disse...

Ê Fernandinha, tudo colhega lá de casa. Exceto a TV porque no meu tempo de menina não existia. Estou virando menina, aposentei minha TV, mandei esconder, enjoeeeei.

Muadiê Maria disse...

Lá em casa era assim, o que mais me incomodava era a falta de música. Ainda bem que somos negros aqui na Bahia e nessa época comemos a vontade muita comida de dendê.

Unknown disse...

Fernandinha, não tenho aparecido mas estou acompanhando as melhoras de Rafa. Que as melhoras sejam cada dia melhores e mais rápidas. Tamos aí! Beijos de Maria
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gosto de reparar nas letras que a gente precisa digitar para enviar a mensagem. Faço associações. SPRATIVA me levou para superativa e superativa é uma pessoa cheia de saúde e esta pessoa cheia de saúde é Rafa daqui a pouco. Beijo ôto

Unknown disse...

Fernandinha, cadê você?

Unknown disse...

Fernandinha, soube que você está apertada de costura. Quando puder dê as caras, um pouquinho só. Sôdade, meu bem, sôdade.